sexta-feira, 30 de setembro de 2016
quarta-feira, 28 de setembro de 2016
JUIZA ELEITORAL DE SALINAS INDEFERE O REGISTRO DE CANDIDATURA DE ALBERTINO TEIXEIRA DA CRUZ
http://inter03.tse.jus.br/sadpPush/ExibirPartesProcessoZona.do;jsessionid=LFIJhk-Dp3rObNsrQwpyV0xm
Requerimento de Registro de Candidatura nº: 431-53.2016.6.13.0244
Interessado: ALBERTINO TEIXEIRA DA CRUZ
Partido/ Coligação: JUNTOS COM O POVO PARA SANTA
CRUZ CRESCER DE NOVO (PMDB/PPS/PSDB/PSD)
Município: SANTA CRUZ DE SALINAS/MG
1 RELATÓRIO
Trata-se de pedido de registro de candidatura coletivo, apresentado tempestivamente, de
ALBERTINO TEIXEIRA DA CRUZ, para concorrer ao cargo de PREFEITO, sob o número
45, pela COLIGAÇÃO JUNTOS COM O POVO PARA SANTA CRUZ CRESCER DE NOVO
(PMDB/PPS/PSDB/PSD), no Município de SANTA CRUZ DE SALINAS/MG.
Foram juntados os documentos exigidos pela legislação
em vigor.
Publicado o edital, o Ministério Público Eleitoral
ajuizou ação de impugnação ao registro de candidatura, no prazo legal.
Regularmente notificado, o candidato juntou
documentos no prazo de diligências e apresentou defesa (ff. 169/192 e 195/207).
Conclusos os autos, o julgamento foi convertido em
diligência, para saneamento, a fim de que o candidato também fosse notificado
acerca da notícia de inelegibilidade apresentada pelo cidadão Arlando Manoel
Marcelino (ff. 131/159, 166/168, 192/193-A).
O impugnado/noticiado apresentou defesa e juntou
documentos acerca da notícia de inelegiblidade às ff. 195/207.
Intimados a manifestar acerca dos documentos
juntados com a defesa o noticiante e o Ministério Público compareceram às ff.
209/284, tendo o noticiante juntado mais documentos com sua manifestação.
O noticiado manifestou-se sobre os documentos, às
ff. 286/289.
É o relatório.
Decido .
2 FUNDAMENTAÇÃO
O feito comporta o julgamento antecipado,
considerando tratar-se de matéria exclusivamente de direito, não havendo outras
provas ou diligências a serem efetuadas (art. 5º, caput, Lei Complementar nº
64/90). Não foram arguidas preliminares e nem vislumbro nulidades a serem
declaradas de ofício. Assim, presentes os pressupostos processuais e estando o feito
em ordem, passo ao exame do mérito.
2.1 Mérito
O Ministério Público Eleitoral ajuizou ação de
impugnação ao pedido de registro de candidatura de ALBERTINO TEIXEIRA DA CRUZ,
candidato ao cargo de Prefeito, sob o número 45, pela COLIGAÇÃO JUNTOS COM O
POVO PARA SANTA CRUZ CRESCER DE NOVO (PMDB/PPS/PSDB/PSD), no Município de SANTA
CRUZ DE SALINAS/MG.
Conforme consta da inicial, o Tribunal de Contas de
Minas Gerais emitiu parecer prévio pela rejeição das contas anuais do
Impugnado, na qualidade de Prefeito de Santa Cruz de Salinas, relativas ao
exercício financeiro de 2012. A Unidade Técnica apontou que o município
procedeu à abertura de créditos suplementares, no valor de R$ 4.722.061,54, sem
cobertura legal, contrariando o disposto no art. 42 da Lei nº 4.320/64. Com
isso, promoveu alteração do orçamento no
percentual total de 33,73%, sem que houvesse lei autorizativa para
respaldá-los. E dos créditos irregularmente abertos, pelo menos R$ 1.886.628,81
foram executados. Informa ainda a inicial que, conforme documentação anexa, a
Câmara Municipal de Santa Cruz de Salinas confirmou a rejeição das contas do
Impugnado, por meio do Decreto Legislativo nº 044/2016.
Consta também da inicial que, de acordo com os
documentos anexados, o Município de Santa Cruz de Salinas celebrou o Convênio
nº 752/2008 com o Ministério do Turismo, que teve por objeto o apoio à
realização da XVI Festa Junina de Santa Cruz de Salinas. E que no bojo da
Tomada de Contas Especial nº 025.663/2013-5, o Tribunal de Contas da União
concluiu que o Impugnado, prefeito de Santa Cruz de Salinas na época dos fatos,
principal ordenador de despesas e responsável pelo envio da prestação de
contas, mesmo devidamente notificado, deixou de comprovar a correta aplicação
de verbas federais repassadas ao município. A referida Corte de Contas concluiu
que inexistiam nos autos elementos que permitissem concluir pela boa-fé do
Impugnado ou outras excludentes de culpabilidade em sua conduta, o que ensejou
a rejeição das contas relativas ao mencionado convênio, condenando-o ao
recolhimento ao Tesouro Nacional do valor de R$ 100.000,00 e ao pagamento de
multa de R$ 10.000,00.
A exordial também destaca que as decisões de
rejeição de contas foram proferidas pelos órgãos competentes, as
irregularidades apontadas são insanáveis e configuram ato doloso de improbidade
administrativa e que não há decisão judicial suspendendo ou anulando as
rejeições. E que ainda não se exauriu o prazo de 8 (oito) anos contados da
decisão.
A inicial da impugnação veio instruída com o
Decreto Legislativo 044/2016, por meio
do qual a Câmara de Vereadores de Santa Cruz de Salinas rejeita as contas do
investigado, refelativamente ao exercício financeiro de 2012; expediente do
Ministério Público de Contas e cópia do processo 886933, que tramitou no
TCE/MG, referentemente à Prefeitura de Santa Cruz de Salinas - ano exercício
2012; cópia de acórdão do TCU que, em tomada de contas especial, julgou
irregulares as contas do convênio nº
752/2008, firmado pelo Município de Santa Cruz de Salinas e o Ministério do Turismo,
condenando o Impugnado ao recolhimento de R$ 100.000,00 (cem mil reais) ao
Tesouro Nacional, bem como aplicando multa no valor de R$ 10.000,00 (dez mil
reais).
A notícia de inelegibilidade (ff. 131/133) informa
que o Noticiado teve reprovadas, pela Câmara Municipal de Santa Cruz de Salinas,
as contas relativas aos exercícios de 2010 e 2012, além de ter também rejeição
pelo TCU.
Com a inicial da notícia de inelegibilidade vieram:
cópia de um expediente da Procuradoria Geral do Ministério Público de Contas,
onde consta informação de que a Câmara de Santa Cruz de Salinas reprovou as
contas do Noticiado relativas ao exercício de 2010 e 2012; cópia de consulta ao
site do TCE/MG, constando informação de rejeição das contas pela Câmara
Municipal; cópia de acórdão do TCU que, em tomada de contas especial, julgou
irregulares as contas do convênio nº
752/2008, firmado pelo Município de Santa Cruz de Salinas e o Ministério do
Turismo, condenando o Impugnado ao recolhimento de R$ 100.000,00 (cem mil
reais) ao Tesouro Nacional, bem como aplicando multa no valor de R$ 10.000,00
(dez mil reais); cópia de acórdão do TJMG, determinando a exclusão do município
de Santa Cruz de Salinas do SIAFI.
A defesa
sustenta, em síntese, que embora tenham sido rejeitadas as contas pela Câmara
Municipal, a sessão legislativa correu à sua completa revelia, assim como os
demais atos daquele processo administrativo. Que a decisão da Câmara Municipal
foi exarada sem qualquer fundamentação e sem a instauração do contratidório ou
possibilidade de ampla defesa por parte do Impugnado, motivos pelos quais a
decisão é nula de pleno direito. Aduz, de outro lado, que a abertura de crédito
suplementar não consitui vício de natureza insanável e que não restou e que não
houve ato doloso, em razão dos valores envolvidos. E que em relação ao
julgamento das contas do convênio 752/2008, por certo não houve o competente julgamento pela Câmara
Municipal, razão pela qual não deve ser considerada para reflexos de
inelegibilidade pela lei eleitoral. Argumenta que o parecer técnico do Tribunal
de Contas, não respaldado pela Câmara Municipal respectiva, não tem o condão de
tornar inelegível o candidato, devido a sua natureza meramente opinativa.
Na oportunidade que teve para manifestar acerca da
notícia de inelegibilidade (ff. 195/207), o noticiado informou e juntou cópia
de deciaão de antecipação de tutela, concedida em sede de Agravo de
Instrumento, na qual suspendeu os efeitos do Decreto Legislativo nº 44/2016 por
meio do qual a Câmara Municipal de Santa Cruz de Salinas havia rejeitado as contas
do noticiado, relativas ao exercício de 2012. Reiterou os mesmos argumentos já
expendidos na primeira defesa, no que toca à rejeição das contas do Convênio nº
752/2008, pelo Tribunal de Contas da União. Em relação às contas do exercício
de 2010, argumenta que, apesar de terem sido rejeitadas pela Câmara Municipal,
elas foram aprovadas pelo TCE/MG. E isto demonstraria não se trata de vício
insanável, razão pela qual não pode ser considerada para efeitos da
inelegibilidade prevista na LC 64/90. Ademais, não teria havido demonstração de
ato doloso de improbidade administrativa.
Instados a manifestar acerca dos documentos
juntados com a defesa, o signatário da notícia de inelegibilidade (ff. 209/212)
limitou-se a dizer, em síntese, que o impugnado agiu dolosamente para obter a
antecipação de tutela em sede recursal e que não poderia, in casu, valer-se da
própria torpeza. Reitera que também são válidas tanto a decisão da Câmara de
Santa Cruz de Salinas, que rejeitou as contas do noticiado relativas ao exercício
de 2010, como também a decisão do TCU, que rejeitou as contas do convênio nº
752/2008.
O Ministério
Público (f. 283/284, frente e verso) manifesta no sentido de que em relação à
decisão do e. Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, que suspendeu os
efeitos do Decreto Legislativo nº 044/2016, que rejeitou as contas do
excecutivo de Santa Cruz de Salinas relativas ao exercício de 2012, impende
ressaltar que o presente feito não é a seara adequada para a análise de dolo do
impugnante para sua obtenção. E que assiste razão ao impugnado no que toca à
rejeição das conta do exercício de 2010 pela Câmara Municipal, pois não
demonstrado o requisito da irregularidade insanável. Outra, porém, seria a
situação relativa à rejeição das contas de convênio pelo Tribunal de Contas da
União. Pede, assim, a procdência da impugnação de registro de candidatura em
decorrência da rejeição, pelo Tribunal de Contas da União, das contas relativas
ao Convênio nº 752/2008, celebrado entre o Ministério do Turismo e o município
de Santa Cruz de Salinas e cujas despesas foram ordenadas pelo impugnado.
Da análise dos autos, verifico que o cerne da
questão reside no fato de verificar se incide sobre o candidato Albertino
Teixeira da Cruz a inelegibilidade prevista no art. 1º, inciso I, alínea g, da
Lei Complementar nº 64/90, cujo conteúdo segue verbis:
Art. 1º são inelegíveis:
I - para qualquer cargo:
[...]
g) os que tiverem suas contas relativas ao
exercício de cargos ou funções públicas rejeitadas por irregularidade insanável
que configure ato doloso de improbidade administtrativa, e por decisão
irrecorrível do órgão competente, salvo se esta houver sido suspensa ou anulada
pelo Poder Judiciário, para as eleições que se realizarem nos 8 (oito) anos
seguintes, contados a partir da data da decisão, aplicando-se o disposto no
inciso II do art. 71 da Constituição Federal, a todos os ordenadores de
despesa, sem exclusão de mandatários que houverem agido nessa condição;
Relativamente às contas rejeitadas pelo Tribunal de
Contas do Estado de Minas Gerais, relativamente ao exercício financeiro de
2012, período em que o Impugnado era prefeito, tem-se que essa decisão foi
confirmada pela Câmara Municipal de Santa Cruz de Salinas, por meio do Decreto
Legislativo nº 044/2016. Não obstante isto, consta dos presentes autos (ff.
204/207) que o Impugnado obteve, perante o egrégio Tribunal de Justiça de Minas
Gerais, decisão concessiva de antecipação de tutela que suspendeu os efeitos do
mencionado Decreto Legislativo nº 044/2016. E de acordo com o art. 1º, I, g, da
Lei Complementar nº 64/90 não incide aquela inelegibilidade, se a decisão
irrecorrível o órgão competente houver sido suspensa pelo Poder Judiciário,
como é o caso sub judice.
E nem se diga que aquela decisão judicial fora
obtida dolosamente, pois, como bem externou o Ministério Público em seu
parecer, o presente feito não é a seara adequada para a análise da alegação de
dolo do impugnante. Assim não fosse, estar-se-ia a invadir a esfera de
competência do Justiça Comum, onde se discute a validade daquele Decreto
Legislativo.
No que toca à rejeição das contas do impugnado pela
Câmara Municipal de Santa Cruz de Salinas, referente ao exercício de 2010, o
documento de f. 134, juntado pelo autor da notícia de inelegibilidade, dá conta
de que aquelas contas obtiveram do TCE/MG o parecer prévio pela aprovação. A
simples reprovação da contas pela Câmara Municipal não faz incidir de forma
automática a inelegibilidade prevista no art. 1º, I, g, da LC nº 64/90. É
preciso que se demonstrem quais foram as irregularidades insanáveis,
configuradoras de ato doloso de improbidade administrativa. Ausentes os elementos nos autos que permitam concluir
pela configuração das irregularidades insanáveis, que consubstanciem ato doloso
de improbidade administrativa, não há como reconhecer a inelegibilidade alegada
pelo noticiante. Neste sentido é a firme jurisprudência do c. Tribunal Superior
Eleitoral:
“Eleições 2014. Registro de candidatura. Deputado
estadual. [...] Rejeição de contas. Câmara Municipal. Prefeito. Contas de
governo. Exercícios 2005 e 2006. Inelegibilidade. Alínea g. Não caracterização.
1. A ausência de juntada de cópia do decreto legislativo atinente ao exercício
de 2006 pela Câmara Municipal constitui óbice à incidência da inelegibilidade
do art. 1º, I, g, da LC nº 64/90. 2. Em relação ao exercício de 2005, embora o
respectivo decreto legislativo tenha sido juntado aos autos, a impugnante não
trouxe ao conhecimento desta Justiça Especializada cópia do parecer do TCM que
o integra, conforme disposição do próprio decreto. Ausentes elementos nos autos
que permitam concluir pela configuração das irregularidades insanáveis, que
consubstanciem ato doloso de improbidade administrativa, não há como reconhecer
a inelegibilidade da alínea g. [...]”
(Ac. de 7.10.2014 no AgR-RO nº 97538, rel. Min.
Henrique Neves da Silva.) (negritei)
“Eleições 2014. Registro de candidatura. Deputado
estadual. [...]. Rejeição de contas. Inelegibilidade. Alínea g. Não
caracterização. 1. Para que se conclua que a rejeição de contas se deu em razão
de irregularidade insanável que configura ato doloso de improbidade
administrativa, é essencial que se tenha uma mínima identificação de como a
irregularidade teria sido cometida, e, em alguns casos, a infração aos comandos
legais e regulamentares pode revelar apenas situação culposa, e não
necessariamente dolosa. 2. Não sendo possível, a partir da análise do acórdão
da Corte de Contas, a identificação da prática de irregularidade insanável e de
ato doloso de improbidade administrativa por parte do candidato, não estão
presentes todos os requisitos para a incidência da inelegibilidade do art. 1º,
I, g, da LC nº 64/90. Precedentes: REspe nº 605-13, rel. Min. Dias Toffoli,
PSESS em 25.10.2012; REspe nº 233-83, rel. Min. Arnaldo Versiani, PSESS em
30.8.2012. 3. De acordo com a jurisprudência desta Corte, ‘nem toda afronta à
Lei de Licitações constitui irregularidade insanável. Da análise do caso
concreto pode-se concluir que as apontadas irregularidades constituem vícios
formais que não comprometem o erário e não constituem ato de improbidade
administrativa. Precedentes: REspe nº 35.971/MA, Rel. Min. Marcelo Ribeiro, j.
1º.12.2009; REspe nº 31.698/PA, Rel. Min. Marcelo Ribeiro, DJe de
21.5.2009" (AgR-AgR-REspe nº 35.936, rel. Min. Felix Fischer, DJE de
1º.3.2010). [...]”(Ac. de 22.10.2014 no AgR-RO nº 172422, rel. Min. Henrique
Neves da Silva.)
“[...]. Eleições 2014. Deputado estadual. Registro
de candidatura. Inelegibilidade. Art. 1º, I, g, da LC 64/90. Rejeição de contas
públicas. Irregularidade insanável. Ato doloso de improbidade administrativa.
Não configuração. [...] 1. O Tribunal Superior Eleitoral entende que nem toda
rejeição de contas enseja a inelegibilidade do art. 1º, I, g, da LC 64/90. Cabe
à Justiça Eleitoral verificar a presença de elementos mínimos que revelem
má-fé, desvio de recursos públicos, dano ao erário, reconhecimento de nota de
improbidade, grave violação a princípios, dentre outros, isto é, circunstâncias
que revelem a lesão dolosa ao patrimônio público ou o prejuízo à gestão da
coisa pública. 2. No caso dos autos, a despeito de a irregularidade consistir
na ausência de concurso público para o preenchimento do quadro de servidores do
Consórcio Intermunicipal para Conservação e Manutenção de Vias Públicas
Municipais, verifica-se que os serviços foram efetivamente prestados pelos
funcionários contratados e que, ademais, havia controvérsia acerca da natureza
jurídica do consórcio público. [...]” (Ac. de 11.11.2014 no AgR-RO nº 121676,
rel. Min. João Otávio de Noronha.)
Porém, outra sorte decorre da rejeição, pelo
Tribunal de Contas da União, das contas do convenio de nº 752/2008 firmado
entre o Ministério do Turismo e a Prefeitura Municipal de Santa Cruz de Salinas
(ff. 11/130). Julgadas irregulares as contas de Albertino Teixeira da Cruz,
então prefeito e ordenador de despesas dos recursos oriundos daquele convênio,
foi ele condenado ao pagamento de multa no valor de R$ 10.000,00 (dez mil
reais), além do recolhimento ao Tesouro Nacional de R$ 100.000,00 (cem mil
reais), atualizados e acrescidos de juros de mora, em razão da ausência de
comprovação da correta aplicação dos recursos repassados à Prefeitura Muncipal
de Santa Cruz de Salinas.
Observe-se que o dano ao erário restou evendenciado
e ensejou, inclusive, o recolhimento de valores ao Tesouro Nacional, bem como a
aplicação de multa. Que o ato foi doloso, não deixa margem de dúvida o trecho
de do acórdão do TCU (f. 118), que consigna:
foi possível verificar que os recursos repassados
foram integralmente gastos na gestão do Sr. Albertino Teixeira da Cruz,
Prefeito de 2005 a 2008, signatário da avença, principal ordenador de despesas
municipais e responsável pelo envio da prestação de contas ao concedente.
Diante da revelia do Sr. Albertino Teixeira da Cruz
e inexistindo nos autos elementos que
permitam concluir pela ocorrência de
boa-fé ou de outros excludentes de culpabilidade em sua conduta, propõe-se que
suas contas sejam julgadas irregulares e que o responsável seja condenado em
débito, bem como seja aplicada a multa prevista no art. 57 da Lei 8.443/1992.
(negritei)
A aplicação de verbas federais em desacordo com o
previsto na avença, sem que se haja comprovada a boa-fé somada à falta de
ressarcimento ao erário configura irregularidade insanável, além de ato doloso
de improbidade administrativa e lesivo ao patrimônio público. Neste sentido já
entendeu o c. Tribunal Superior Eleitoral: o Ac.-TSE, de 1º.10.2014, , no
AgR-RO nº 34478 (aplicação de verbas federais repassadas ao município em
desacordo com convênio); AC.-TSE, 3.9.2013, no REspe nº 49345 (imputação de
débito ao administrador pelo TCU).
Resta saber, neste passo, se a rejeição das contas se deu por decisão
irrecorrível do órgão competente, salvo se esta houver sido suspensa ou anulada
pelo Poder Judiciário. Observa-se dos autos que a decisão do Tribunal de Contas
da União se deu aos 07/04/2015, não constando dos autos nenhuma informação de
que dela fora interposto algum recurso ou que viesse a ser suspensa ou anulada
pelo Poder Judiciário. Superada esta fase, resta saber se o Tribunal de Contas
da União seria o órgão competente para o julgamento ou se, neste caso, emitira
apenas parecer opinativo, para a apreciação dessas mesmas contas pela Câmara
Municipal.
Ocorre que neste ponto, entendo que o órgão
competente para julgamento das contas de convênios é a Corte de Contas, em
razão do disposto no art. 71, inciso II, da Constituição Federal.
Não se desconhece que o Supremo Tribunal Federal,
nos recursos extraordinários 848.826/DF E 729.744/DF, em regime de repercussão
geral, decidiu que compete à Câmara Muncipal o julgamento das contas do Chefe
do Poder Executivo, tanto na condição de ordenador de despesas quanto de
gestor, exercendo o Tribunal de Contas função de auxiliar, emitindo parecer
prévio.
Ocorre que aquele precedente não se aplica ao caso
em apreço, na medida em que os paradigmas de julgamento daqueles casos pela
Corte Suprema não encontram correspondências no caso em apreço. Trata-se da
aplicação da técnica do distinguisching. Sobre o distinguishing é elucidativa a
doutrina de Didier :
"Fala-se em distinguishing (ou distinguish)
quando houver distinção entre o caso concreto (em julgamento) e o paradigma,
seja porque não há coincidência entre os fatos fundamentais discutidos e
aqueles que serviram de base à ratio decidendi(tese jurídica) constante no
precedente, seja porque, a despeito de existir uma aproximação entre eles,
algumas peculiaridades no caso em julgamento afasta a aplicação do
precedente."
No RE nº. 848.826/DF, a questão central referia-se
às contas de gestão de prefeito, na qualidade de ordenador de despesas, que
haviam sido rejeitadas pelo Tribunal de Contas do Estado do Ceará. Já o RE
nº. 729..744/DF tratava de contas anuais
de governo, exercício de 2001, em que o parecer prévio do Tribunal de Contas de
Minas Gerais havia sido pela rejeição. Em ambos os caos, o cerne da questão
dizia respeito à prestação de contas anual do prefeito, enquanto gestor do
erário municipal e, ao mesmo tempo, Chefe do Poder Executivo.
Em nenhum momento o STF abordou a questão das
contas julgadas pelo Tribunal de Contas em tomada de contas especial, para
analisar a lisura na aplicação de recursos transferidos de uma Esfera
Federativa a outra por meio de convênio. Nesses casos, aplica-se o inciso II,
combinado com o inciso VI, todos do art. 71, da Constituição Federal, sendo
competente a Corte de Contas para efetivamente julgar e fiscalizar a aplicação
de quaisquer recursos repassados pela União mediante convênio, acordo, ajuste
ou outros instrumentos congêneres, a Estado, ao Distrito Federal ou a
Município. Foi o que se deu no caso da
rejeição, pelo Tribunal de Contas da União, das contas do convenio de nº
752/2008 firmado entre o Ministério do Turismo e a Prefeitura Municipal de
Santa Cruz de Salinas (ff. 11/130). Não se tratou de mero parecer opinativo,
mas de verdadeiro julgamento que declarou irregulares as contas de Albertino
Teixeira da Cruz, então prefeito e ordenador de despesas dos recursos oriundos
daquele convêncio, bem como o condenou ao pagamento de multa no valor de R$
10.000,00 (dez mil reais), além do recolhimento ao Tesouro Nacional de R$
100.000,00 (cem mil reais), atualizados e acrescidos de juros de mora. Não
resta dúvida de que, neste caso, o órgão competente para julgamento das
mencionadas contas seja o Tribunal de Contas da União.
Diferentemente dos paradigmas julgados pelo STF,
que versou sobre o julgamento das contas anuais (em que o prefeito figura ao
mesmo tempo como gestor político e ordenador de despesas), as contas de
convênio são analisadas e julgadas pelos próprios Tribunais de Contas, que
aprovam ou desaprovam a contabilidade relativa à gestão de recursos Estaduais
ou Federais. Nestes casos, as decisões dos Tribunais de Contas, que são os
órgãos competentes, possuem força para tornar inelegível o gestor público,
fazendo incidir a inelegibilidade descrita no art. 1º, inciso I, alínea g, da lei
Complementar nº 64/90, com a redação que lhe deu a Lei da Ficha Limpa.
Assim, noto que não foram preenchidas todas as
condições legais para o registro pleiteado. Em que pese o Requerimento de
Registro de Candidatura ter sido instruído com a documentação exigida pela
legislação pertinente, estarem presentes as condições de elegibilidade, há
causa de inelegibilidade a ser reconhecida.
3 DISPOSITIVO
ISSO POSTO, julgo PROCEDENTE a ação de impugnação
de registro de candidatura proposta pelo Ministério Público, bem como a notícia
de inelegibilidade apresentada por Arlando Manoel Marcelino e INDEFIRO o pedido
de registro de candidatura de ALBERTINO TEIXERA DA CRUZ, para concorrer ao
cargo de PREFEITO de Santa Cruz de Salinas, sob o número 45, com a seguinte opção
de nome: ALBERTINO.
Registre-se. Publique-se. Intime-se.
SALINAS, 28 de setembro de 2016.
ERICA CLIMENE XAVIER DUARTE
Juíza da
244ª Zona Eleitoral
Assinar:
Postagens (Atom)
Prefeitura Municipal de Santa Cruz de Salinas 2021-2024 29 de abril às 19:13 O prefeito atento às demandas do Município reuniu-se hoje com...
-
LAPEIROS - PRINCIPAIS FAMÍLIAS DE SANTA CRUZ DE SALINAS EM 1955 AVENIDA TOTÓ COSTA - SÓ TERRA AVENIDA TOTÓ COSTA - SENDO CA...
-
Conforme consta no site do Tribunal de Justiça de Minas Gerais, quatro integrantes da Quadrilha Criminosa que atuava em Santa Cr...
-
--> História do Município de Santa Cruz de Salinas Texto: Venilton Henriques Coelho O território onde situa o município de ...